20 de junho de 2010

Relembrando: DORO no Brasil - Parte 3

A parte 3 do "Relembrando Doro no Brasil" é a entrevista dada ao site Delfos no dia 15/10/2006 no Hotel holiday Inn em São Paulo, o texto é de Carlos Eduardo Correales.


(...) essa foi uma entrevista complicada. Inicialmente, foram oferecidas ao mesmo tempo entrevistas com três bandas: Gotthard, Doro e Primal Fear (...) comecei a pensar na importância da Doro e resolvi que não podia deixar passar a oportunidade. O problema é que conhecia muito pouco dela e passei o feriado de 12 de outubro pesquisando e elaborando uma entrevista caprichada para que você, possa se divertir bastante lendo uma conversa bem diferente das que você encontra em qualquer revista por aí.
O combinado era que eu pedisse na recepção para falar com uma garota chamada Anja e que lá me informariam onde ela estava. Só que os recepcionistas nunca tinham ouvido falar dela. Falei que tinha horário marcado para entrevistar a Doro e disseram que eu teria que falar com o Ingo. Mas a única referência que sabiam me dar sobre o Ingo era que ele era careca. Depois de muito procurar, encontrei o Ingo e a Anja estava do lado dele. Ela me disse que estavam um pouco atrasados, mas eu seria o próximo.
Tinha um grupo de garotas entrevistando a vocalista ali mesmo na recepção e as gurias ultrapassaram em muito a meia hora combinada. Quando a entrevista delas terminou, ainda ficaram mais uns 10 ou 15 minutos pegando autógrafos e tirando fotos com a loirinha.Quando as gurias finalmente vão embora, começa a aparecer um monte de fãs pedindo autógrafos, tirando fotos e coisas do tipo. Finalmente, chega a minha vez, ao mesmo tempo que uma música altíssima começa a tocar no salão inteiro. Falo para a vocalista que estou preocupado que isso não permita que a gravação seja ouvida depois e ela, para minha surpresa, sugere irmos para o quarto dela, desde que eu “não me incomodasse com a bagunça”.

Seja como for, lá vamos nós rumo ao elevador do hotel batendo papo. Ela me pergunta sobre o DELFOS. Ela não entende o nome e eu falo sobre a ilha grega, mitologia e tal. A garota provavelmente não se interessa muito pelo assunto pois respondeu que se lembra vagamente disso na escola, embora ache bem interessante. Eu explico que é um site não apenas de música, mas também de cinema, games, etc, e ela fica super empolgada, pois vai ter chance de falar sobre o filme que ela fez. Quando chegamos na porta do quarto, descobrimos que o cartão não funcionava. De volta para o lobby para trocar o cartão. Quando esperávamos, chega um cara que se aproxima da Doro e fala coisas como “Doro, a rainha do Metal”. Finalmente, pede para dar um abraço nela. A moça aceita e o cara tasca um beijo na bochecha da guria. Um homem, que estava junto com a gente, diz ao fã “You can hug, but you can’t Kiss”. Finalmente, ficamos livres de fãs e pudemos ir para o quarto trabalhar.
Na subida, falo com a moça sobre essa situação, explico que nós damos beijos na bochecha por qualquer coisa e que o cara provavelmente não sabia que alemães não têm esse costume. Ela diz que sabe disso e que não queria deixá-lo sem graça. Perguntei se o carinha de baixo era o marido dela (dada a reação do cara) e ela disse que não, que não quer marido, nem filhos, pois os fãs e o meio da música são a família dela.

Quando chegamos no quarto (que realmente estava uma bagunça), ela dá uma arrumada rápida nas coisas para liberar uma cadeira para eu sentar, senta na cama e finalmente começamos a entrevista. Já eram mais de 18 horas.
Apesar de toda a sua fama de rainha do Metal, tive a impressão que Doro é até meio insegura. Fala baixo, às vezes até sussurrando como se estivesse contando um segredo ou fazendo alguma travessura (principalmente quando faz citações ao que outra pessoa falou), com um sotaque alemão muito forte e dificilmente olha nos olhos. Mesmo assim, fala bastante, repete várias vezes a mesma coisa e pára as frases no meio. Ela tem carisma de sobra e falou do Warlock (inclusive do fato de o nome ter sido roubado), do Iron Maiden, do Gene Simmons e de muitas histórias engraçadas e curiosas que você com certeza nunca leu em nenhum lugar, como a sensação de fazer parte de uma banda de Metal quando esse estilo de música estava ainda começando e ninguém sabia direito o que ele era. Sem exageros, a mina representa basicamente toda a história do Metal alemão e tudo isso está aí embaixo, em detalhes. E, claro, ela também falou sobre o filme do qual participou. Você pode conferir abaixo a conversa na íntegra e, só para constar, esta foi a primeira entrevista internacional conduzida pessoalmente pelo DELFOS.


Como foi seu primeiro contato com o Rock e o Heavy Metal?
Ah, meu primeiro contato foi quando eu era muito pequenininha, quando eu tinha uns três ou quatro anos e decidi virar cantora. Era a época do Glam Rock e eu era muito fã de Alice Cooper, T-Rex, Sweet e Slade. Eu conhecia uns caras mais velhos de 10 e 11 anos e eles me mostravam todos esses discos, do Led Zeppelin, Stones, todas essas coisas. Eu ainda nem estava na escola e nós já trocávamos cassetes e tudo. Foi uma boa introdução. Depois eu fiz uns 15, 16 anos e formei minha primeira banda, chamada Snakebite e nós fazíamos o que queríamos, Rock pesado, Hard Rock, algumas músicas de Heavy Metal, que estava começando. Nós nem sabíamos que éramos uma banda de Heavy Metal

Vocês achavam que eram o quê? Glam, Hard?
(com voz de muito empolgada) Não, para nós era só música pesada, sabe? Todo mundo vinha para o ensaio com idéias de novas músicas e a gente tocava e depois a gente percebeu que tinha todo um movimento Heavy Metal se formando. Isso foi em 1980. Daí a gente começou a ir a shows de Metal. Acho que o meu primeiro show, contando Metal ou Hard Rock foi o Whitesnake e depois Judas Priest e Accept. Daí alguns anos depois já tinha várias bandas e nós formamos o Warlock, gravamos nosso primeiro disco, era o começo dessa grande onda de Metal, mas nós fazíamos só o que queríamos, sabe? Sem nenhuma regra, desde que fosse legal, saísse do coração e fosse poderoso.

O nome Snakebite tinha alguma coisa a ver com Whitesnake?
O nome foi escolhido pelo baterista e acho que tinha alguma coisa a ver sim. Era um nome legal.

E suas principais influências eram essas que você falou? Alice Cooper, T-Rex?
Sim, sim! Eu adoro T-Rex e Pink Floyd, Stones, Led Zeppelin. Aí depois, da galera do Metal, Judas Priest, Metallica, Motörhead, Dio, amava a voz dele. Ainda amo. Tinha tantas bandas boas. Saxon, eu amo Saxon, eles têm ótimas músicas.

Você ficou desapontada com esse furo do Saxon?
Sim, pelo que eu fiquei sabendo, tinha alguma coisa errada com os vistos. Daí nós fomos para a Argentina para fazer dois shows não planejados porque o promotor perguntou se nós queríamos fazer um dia antes do show acontecer. No primeiro show, o pessoal parecia meio chocado, mas no segundo eles acharam legal. Não tenho certeza, mas acho que foi algo errado com os vistos, mas eu sei que muitos fãs ficaram tristes.

O Saxon é uma boa banda, muitas pessoas queriam vê-los.
Sim, sim. Eles têm ótimas músicas. Nós fizemos várias turnês com eles e sempre foi perceptível quantos fãs eles tinham.

Por que você decidiu sair do Snakebite e entrar no Warlock?
Naquela época tinha várias bandas e um lugar grande onde todas ensaiavam. Na época todos tinha 16 ou 17 anos e alguns tiveram que ir para o exército. Na Alemanha os homens têm que ir para o exército.

Todos os homens?
Sim, todo mundo. Era muito difícil não ir, você tinha que provar que era louco, o que era difícil. Ou que estava doente. Ou então dizer que não conseguiria matar pessoas e daí trabalharia em um hospital ou asilo.

E você tinha que ficar um ano no exército?
Sim. Uma época chegou até a ser 18 meses, depois ficou 12. Não sei quanto é agora. Bom, por causa disso, muitas pessoas tiveram que ir e nós precisamos substituí-las e era sempre uma tragédia porque as pessoas que precisavam entrar tinham que cortar o cabelo. Isso foi parte do motivo pelo qual existiam várias bandas. Outras pessoas tentavam a música, mas depois trocavam por um outro trabalho. Nessa época, quando eu estava no Snakebite, a maior parte das pessoas considerava isso um hobby, ninguém pensava em fazer disso uma carreira. Isso aconteceu só depois, com o Warlock e nosso primeiro álbum, o Burning the Witches. Depois fizemos o segundo e eu tinha um emprego normal, era artista gráfica, até que um dia o empresário me ligou no trabalho e perguntou (Nota: aqui o tom dela muda e fica como se ela estivesse contando um segredo), “Ei, Doro, você quer sair do seu trabalho?”, e eu respondi (voz de espantada) “Por quê?”. Ele respondeu que tínhamos a chance de fazer uma turnê com o Judas Priest. E eu disse “Sem chance, você tá me zoando”, e ele, “Não, cara, acabaram de me ligar”, e eu disse que isso era inacreditável. E esse foi o dia que saí do meu emprego e daí tudo ficou bem sério. Aí fizemos uma turnê grande, em 1986, tocando em lugares grandes, quando o Heavy Metal estava no auge e daí tocamos no Monsters of Rock para 100 ou 120 mil pessoas. Mas a gente não tinha idéia de que ficaria tão profissional, era só um hobby para colocar as frustrações e as emoções para fora, sabe?

Quando você assinou com a Polygram, você ainda trabalhava como artista gráfica?
Sim, ainda trabalhava.

E como esse contrato surgiu?
Essa é uma história engraçada. Nós fizemos o Burning the Witches e o pessoal começou a ouvir falar dessa banda chamada Warlock e daí um cara da Polygram foi assistir a um dos nossos shows na Holanda e o tímpano dele estourou, porque era tão barulhento e tão pesado. Daí ele ligou para o chefe da Polygram dizendo isso e que ele precisava ir para o hospital. Daí o chefe disse “ok, eu preciso dessa banda”.

Uau, isso realmente é “True” Metal! Tipo Manowar True Metal!
(rindo muito) Exatamente. Ele não ouviu nenhuma música, nem viu a banda e foi isso. Daí o chefe da Polygram foi a outro show na Holanda. Eu ainda trabalhava e estava com as roupas de trabalho, me preparando para ir ao camarim me trocar. Daí ele chegou e perguntou para mim quem era o cantor. Eu respondi que eu era a cantora e ele respondeu “sem chance!”. Eu disse que era a cantora. Ele: “Sem chance!”. Daí eu disse: “Vou provar para você!”, vesti a minha roupa de palco, fizemos um show tremendão e daí ele veio nos elogiar depois.

Você foi a primeira mulher a tocar no Monsters of Rock. Você pensou nisso na época?
Não, depois que as pessoas começaram a falar isso. Para mim não foi grande coisa. Eu estava feliz de estar lá, de ser uma musicista, de estar em turnê. Não via diferença entre ser mulher ou homem, o Metal está no coração, sabe?

Você já teve alguma dificuldade por ser uma mulher?
Na verdade não. Sempre foi difícil, por tocar Heavy Metal e Hard Rock, que eram tipo os foras da lei. Não era que nem na música Pop. Até hoje na Europa é quase impossível ouvir Metal no rádio ou na TV. Mas por um lado eu gosto disso, porque você não tem que participar de todos os esquemas da grande mídia. Teve uma época que isso me deixava triste, porque eu achava a maior parte dos nossos clipes muito legais e não entendia porque não tocavam eles. Mas hoje os fãs são como uma família e a gente consegue viver sem a grande mídia. Eu amo isso, sabe?

O que você acha dessas mulheres cantoras hoje em dia, que cantam de forma lírica e tal?
Acho que muitas dessas mulheres são tremendonas. Gosto da Angela, do Arch Enemy, acho que ela é muito boa.

(rindo) Ela não é lírica, mas é legal.
(rindo) É, ela não é lírica. Eu gosto, é claro, da Tarja, do Nightwish. A Floor do After Forever faz um trabalho ótimo. Eu conheço a Cristina, do Lacuna Coil, ela é legal. Eu tenho uma boa relação com todas as mulheres, todas nos conhecemos e nos apoiamos. Elas são muito fortes, boas vozes, boas personalidades. Eu nunca conseguiria cantar da forma clássica, eu nunca tentei. Sempre fui mais... uhn...

Pesada?
(rindo) É.

Você abriu shows de bandas como o Dio e o Megadeth. Como foi isso?
Foi a minha primeira turnê estadunidense com o Megadeth. Acho que foi Sanctuary, Warlock e Megadeth. E Sanctuary é hoje o cara do... uhn...

Nevermore
É, Nevermore. Era 87 e foi fantástico. A turnê do Dio foi em 86, não, foi 87 também e no ano 2000 nós tocamos novamente por todo os EUA. E em 86 teve aquela com o Judas Priest. Todas elas foram únicas e especiais. No mesmo ano da tour com o Judas, nós fizemos uma com o W.A.S.P. na Inglaterra, que também foi super. É sempre uma honra tocar com seus ídolos. É tão tremendão. Na primeira turnê com o Judas e o Accept eu não podia acreditar. Todo dia eu subia ao palco e não acreditava. E nós sempre fomos bem tratados, com iluminação e passagem de som completas. Nós aprendemos com os melhores.

Quem foram os mais legais e os mais chatos com quem você excursionou?
Hum... os mais legais, Deus... todos foram legais. O Dio foi demais. O Judas foi demais. E o Blackie Lawless foi demais, porque eu estava doente na Inglaterra depois da tour com o Judas, porque nos últimos dias da turnê, nós tocamos em um lugar onde se joga Hockey. Eu não tomei cuidado, fiquei em cima do gelo e dois dias depois fiquei muito doente. Aí era inverno na Inglaterra, o Blackie me viu e disse (sussurrando): “ei, Doro, você está doente? Fica no meu camarim, deita lá e descansa, tem umas poções para a voz. Fica lá o quanto precisar”. Eu nem sei onde eles se trocaram, porque só tinha um camarim. Ele foi muito legal, eu nunca esqueci isso. Agora sobre o mais chato, eu não tenho o que falar, porque nós tivemos sorte de sermos sempre bem tratados.

Vocês fizeram uma turnê com o Malmsteen, certo?
(empolgada) Sim, Malmsteen.

Ele também foi legal? Porque ele tem fama de ser muito chato.
(rindo) Sim, eu sei... Mas ele foi legal também. Foi na turnê do Dio. Éramos nós, o Malmsteen e o Dio. Mas não sei. Para nós, ele foi legal. Acho que foi sorte.

Por que a formação do Warlock mudava tanto?
Ah, Deus... o baixista estava cheio de tudo, disse que não queria mais fazer música, não se divertia e decidiu sair. Isso foi em 86. Depois o guitarrista não se dava bem com o empresário. Sempre acontecia algo e a formação nunca foi estável. Agora eu tenho uma formação estável. O baixista está comigo faz 16 anos, o guitarrista e o baterista estão faz 13 anos. Hoje nós nos damos bem, o que é ótimo. Mas naquela época ninguém estava preparado para ficar tão  profissional. Era muita pressão. O que o empresário, o produtor ou a gravadora falava, você tinha que fazer, era diferente de hoje. Hoje os músicos têm mais liberdade, mas nos anos 80 o poder de um produtor era inacreditável e tinha muitas brigas. Na mixagem do nosso terceiro álbum, nós nem podíamos entrar no estúdio e daí não gostamos da mixagem final. Foi barra pesada. Daí o empresário saiu e levou junto o nome Warlock porque ele era (voz de desdém) o fuckin’ merchandiser e tinha interesse em manter o nome, mesmo não tendo nada a ver com ele. Daí nós tivemos que ir ao tribunal. Nós éramos jovens headbangers, de cabelo comprido e o juiz decidiu que o empresário ficaria com o nome.

Mas por que foi ele que registrou o nome?
Foi uma tremenda injustiça. Ele roubou todo o nosso dinheiro, o que já era ruim, mas pior foi roubar o nome. Ele disse que nós precisávamos garantir que ninguém pegasse esse nome. Disse que ficaria no meu nome, no do guitarrista e no dele, mas quando ele quis sair da banda, de repente estava apenas no nome dele. E o juiz não era um bom juiz e nós não acreditamos. Mas nós éramos “Heavy Metal kids” e o empresário estava de terno e gravata, com cara de profissional. Eu comecei a gritar no tribunal, mas não mudou nada e esse foi o fim do nome Warlock por muito tempo.

Daí você decidiu usar Doro?
A gravadora sugeriu que não pegássemos outro nome, que usássemos só Doro, pois assim os fãs fariam a conexão e eu concordei, porque se não chamássemos de Doro, perderíamos o contrato. Eu queria usar o Warlock e eles disseram que eu não podia. Eu disse “vou usar” e eles “você não pode”. E nós já tínhamos pôsteres de tours com o nome e tivemos que recolher ou teríamos que pagar muito dinheiro. Mas queria continuar na música.

Daí você teve o Gene Simmons como produtor. Como você chegou nele?
Ah, isso foi ótimo. Eu era um grande fã de Kiss e conheci o Gene no Monsters de 1988. Um ano depois, perguntei para o empresário se poderíamos entrar em contato com o Kiss para fazer algo juntos ou gravarmos uma cover deles e ele disse que achava que não ia rolar. Semanas depois, meu outro empresário – nós tínhamos dois nessa época e esse era... uhn...

O legal?
(rindo) É, o legal, o nome dele era Alex. Ele me ligou e disse para eu ir até lá que tinha alguém me esperando. Eu morava em Manhattan na época. Achei que eram amigos da Alemanha. Quando cheguei lá, ele disse “você não vai acreditar quem está esperando você, o Gene Simmons”. Eu achei que ele estava brincando. Dei três voltas no quarteirão até criar coragem de entrar e falar com ele. Ele foi legal e daí nós conversamos, ele disse que poderíamos fazer uma ou duas músicas juntos, mas deu tão certo que ele escreveu várias músicas para o disco, nós refizemos a música Only You e foi fantástico. Um sonho realizado e ele foi tão legal, conseguia motivar todo mundo.

Por que a música Only You? Era sua favorita?
Sim, era uma das minhas favoritas. A guitarra, o refrão, a melodia.

Ele cantou você?
(rindo) Não, não mesmo, foi puramente profissional. Um grande produtor, o melhor de todos os tempos.

Depois você assinou com a Warner, um selo ainda maior que a Polygram. Como isso aconteceu?
Parece legal, mas depois de 13 ou 14 anos na Polygram, achei que seria uma boa mudar de pessoas, de idéia. Daí fizemos o disco Love Me in Black, que demorou três anos para fazer, mas era uma época muito ruim para o Metal. Era 98 e a cena tinha encolhido muito. Tentei um som diferente, do qual ainda gosto bastante, mas a gravadora não apoiou direito, não deu muito certo. Daí eu mudei para a SPV, que era mais voltada ao Metal. A Warner é grandona, mas é mais voltada à música mais comercial, tipo Madonna. Não tem um departamento de Heavy Metal. Foi uma boa experiência, mas a Warner só lançava nos grandes mercados e o resto ficava sem nada. Com a SPV, nossos discos foram lançados no mundo todo de novo. Quando o contrato com a SPV acabou, nós fomos para a AFM.

Depois você tocou Fear of the Dark com o Blaze Bayley. Como isso aconteceu e por que Fear of the Dark?
Foi um concerto beneficente, com orquestra. Daí nós decidimos fazer um dueto e Fear of the Dark funcionou muito bem com a orquestra. Daí quando nós tocamos no Wacken, sempre fizemos Fear of the Dark e é minha música favorita do Maiden.

Você não pensou em tocar uma música na qual ele cantou originalmente?
Sim, nós pensamos nisso, mas... (voz de manha) Fear of the Dark é minha música preferida, perguntei se ele podia fazer e ele topou. Nós fizemos uma turnê juntos, ele fazia o show dele com a orquestra, ele abria o show e daí ele tocava suas músicas solo e da era Maiden, mas Fear of the Dark sempre fazíamos juntos.

E como você se sentiu tocando com o Lemmy?
Ah, isso foi fantástico. O Lemmy é um dos caras mais carismáticos e amáveis. Todo mundo do meio do Metal e do Rock ama ele, incluindo eu. Foi uma honra. Em novembro vamos lançar um DVD chamado 20 Years of Warrior Soul, que inclui o show do 20º aniversário, que fizemos há dois anos e tem vários participações especiais. O Udo Dirkschneider e o Saxon, o Blaze Bayley, o Lemmy e o Mikkey Dee do Motörhead, tocando Love me Forever Together. Vai ser duplo, com um documentário sobre a turnê, algo para os fãs die hard.

Como surgiu a idéia de tocar com orquestra?
As pessoas me perguntaram se eu participaria desse evento beneficente e se eu queria cantar umas músicas. Fizemos o show e foi fenomenal. Daí fizemos outros, gravamos o DVD e partiu daí. Foi meio por acidente.

E por que gravar Breaking the Law, que é uma música tão simples, com orquestra?
Eu sempre quis fazer uma música do Priest para agradecer pela grande oportunidade em 1986. E daí achei que seria um desafio especial fazer com orquestra, mas queria fazer alguma coisa diferente, pois a original é muito boa e não dá para fazer melhor. Ela é mágica, mas queria fazer uma versão interessante e acabou sendo minha música preferida no Classic Diamonds. Eu estava trabalhando no DVD do Udo, fizemos um clipe para a música dele, Dancing with Angels, que era um dueto. Ele perguntou o que estava fazendo, falei do projeto com orquestra, chamei ele, ele topou, lembrei da Breaking the Law, toquei a versão instrumental para ele, vi que ele gostou e fizemos. Acho que ficou muito boa.

Agora sobre o presente: como foi tocar no Brasil pela primeira vez?
Eu esperei tanto por esse momento. Você estava lá ontem, né?

Sim, estava.
Foi mais do que eu esperava. Os fãs foram tão barulhentos, foi tão legal. Espero que voltemos logo. Lá embaixo (no saguão do hotel) está o promotor do festival e ele gostou, então acho que é o primeiro passo para fazermos uma turnê aqui. Estou muito feliz e acho que não poderia ter sido melhor. Primeiro tocamos no Live ‘n’ Louder México e foi ótimo. Depois os dois shows na Argentina substituindo o Saxon e foi ótimo tocar lá. Toda essa viagem pela América do Sul foi ótima e ontem foi o grande destaque. Eu ouvia as pessoas falando tanto sobre tocar aqui.

Você ouviu falar muito dos fãs brasileiros?
Sim, as bandas que já passaram por aqui me falaram. Há duas semanas, na Espanha, falei com o Schmier do Destruction e ele disse que eu ia amar, que os fãs são selvagens e loucos. E foi exatamente como ele disse. Fiquei muito feliz. Vocês têm uma grande reputação. Todo mundo diz que os fãs sulamericanos são os mais True Metal de todos, que são fantásticos. Eu adoro quando as pessoas mostram as emoções.

Por que demorou tanto para você vir?
Já falamos com muitas agências e promotores, sempre chegava perto e no último minuto era cancelado. Há dois anos nós íamos tocar em um festival, mas aí foi cancelado.

E você sabe o que aconteceu? O festival chamava Masters Open Air.
Sério? Não, não sei. Nosso agente disse que não ia acontecer. Eu disse “merda”. Acho que o festival mudou de data. Nós estávamos confirmados para uma data e daí ele foi adiado para duas semanas depois, mas nessa data já estávamos com contrato assinado para o Wacken.

Mas o festival foi cancelado também. Ele nunca aconteceu.
Não? Ah, eu achei que ele só tinha sido adiado. A banda é sempre a última a saber.

Por que você grava várias músicas em alemão?
Eu sempre escrevo as músicas por instinto ou inspiração e às vezes sai em alemão. Eu tento traduzir para inglês, mas não tem a mesma mágica. Até os caras da banda falam que em alemão fica melhor. É algo diferente para pessoas que gostam de algo diferente.

Como você tocou em um festival, teve tempo limitado para tocar. Você já está planejando um retorno para fazer um show completo?
Sim, definitivamente. Espero voltar ano que vem e acho que vai acontecer. O show de ontem foi bom, então espero que o promotor nos pegue para uma turnê grande. Tenho um bom pressentimento.

Muitas pessoas consideram você a rainha do Metal, como aquele cara lá embaixo. O que você acha disso?
É super legal. Sempre que alguém diz algo positivo eu gosto. Gosto que minha música deixe as pessoas felizes. É a melhor coisa do mundo quando as pessoas vêem você e ficam empolgadas.

Você já começou o trabalho em um novo disco?
Não, ainda não. Até o final do ano estaremos em turnê e ano que vem vamos excursionar pelos EUA. Em novembro, o DVD sai. Acho que ano que vem farei isso, mas não sei quando. Não consigo fazer duas coisas ao mesmo tempo. Tem bandas que compõem em turnê, mas eu não consigo.
Nesse momento, a entrevista é interrompida por uma mensagem que chega no celular da Doro e, logo em seguida, uma batida na porta. Era um cara do hotel trazendo a comida da moça e a Anja pedindo para encerrarmos a entrevista. Quando ela fecha a porta, Doro volta a sentar onde estava, pedindo desculpas e dizendo que estava sem graça.

Bom, já que estamos sem tempo, queria que você deixasse uma mensagem para o público do DELFOS e, se você não se importa, gostaria de filmar para que os fãs possam baixar.
Claro. O que é para eu dizer?

Uma mensagem simples. Um beijo para os fãs. Não, peraí, alemães não beijam, então seria um abraço.
(rindo) Às vezes nós beijamos também.

Ok, pode falar.
Oi, caras, fãs e amigos. Estou aqui no Brasil. Sou a Doro Pesch. Eu amo aqui. É minha primeira vez aqui. O show de ontem foi ótimo. Espero voltar várias vezes. E eu quero dizer “oi” para todos os fãs do DELFOS. Keep it hard, stay heavy, rock on e vejo vocês em breve. Você pode baixar essa mensagem em vídeo clicando aqui – 1 Mb. Lembre-se de clicar com o botão direito e escolher “Salvar como...”. O arquivo toca no programa Windows Media Player.

Ok, muito obrigado pela entrevista. Vou guardar as perguntas que sobraram para a próxima vez.
Sim, eu vou tentar ter mais tempo na próxima.

Infelizmente não tivemos tempo de falar do seu filme, mas se você quiser, pode falar agora.
É meu primeiro filme e chama “Anuk: The Path of the Warrior”, foi filmado nas montanhas suíças, nós escrevemos a trilha sonora, que é, na verdade, a música Warrior Soul. Foi filmado em setembro e foi uma ótima experiência. Foi hardcore, realmente perigoso, mas foi ótimo. Ele estréia em novembro na Suíça.

Vai passar nos cinemas?
Sim, nos cinemas. Espero que em todos os países, mas se não sair em todos os países, você pode assistir depois em DVD. É uma aventura e eu sou a protagonista feminina, uma caçadora que vira guerreira. Meu nome no filme é Meha e o protagonista é Anuk. Ele se machuca, ela o encontra, daí eles lutam juntos no final. É um ótimo filme. É underground, mas tem muito sentimento.

É um musical?
Não, tem as músicas de fundo e eu cantando um pouco, mas é algo mais assustador, mais atmosférico. É muito legal. Eu acabei de assistí-lo pela primeira vez. Foi uma ótima experiência e pretendo fazer outros. O produtor Luke Gasser já disse que vamos fazer outras coisas juntos porque foi muito bom.

Como escreve o nome dele?
L-U-K-E...

Tipo Skywalker?
(ri por uns 10 segundos) Sim, mas é o nome real dele. O sobrenome é G-A-S-S-E-R.

Ok, obrigado pela entrevista.
Obrigado e desculpe pelo atraso e pelo pouco tempo.

Tudo bem. Tchau.
See you soon.

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